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segunda-feira, 28 de abril de 2008

Luar

Raul girava, passava seus dias girando.
Tinha a vista panorâmica da vida que todos desejavam, Raul via a tudo e todos irem e virem repetidamente.
Arvores, pessoas, crianças, velhos, pássaros, casais...
E tudo de novo, e de novo...
Mas era bom, pois via a vida acontecer com os outros; via desgostos e felicidades alheias, crianças correndo ingenuamente pelo parque, velhos alimentando a morte com alpiste, casais hora se beijando, hora brigando, moças tristes, moças histericamente sorridentes, via carnavais arruinando e arrasando e via até deitar o sol. A sua vida e papel eram de observador, espectador da vida, e por isso tinha a vista que “todos desejavam”.

Raul acordava com o dia e dormia com a noite.
Às vezes alguém o acordava durante a noite, eram em sua maioria, mendigos rebeldes ou jovens bêbados.
Ouvia historias muitas vezes repetitivas e monótonas, donas reclamando de maridos irresponsáveis e crianças-mendigo, que pedem, pedem e pedem mais. Mas de vez em nunca um certo alguém aparecia e lhe contava historias mirabolantes, sobre o mar, o deserto, e coisas que Raul não se cansava de imaginar. Raul gostava de imaginar que essas histórias eram contada única e exclusivamente à ele, pois não eram.

O crepúsculo, à Raul era o ápice de seus dias, girando e girando, via aquela grande bola amarela recolhendo-se no horizonte como se fosse um filme antigo em câmera lenta.
No qual, as imagens tem uma pausa entre si, e assim suas personagens parecem robôs, estáticos e fotografados.
Raul era conseqüentemente invisível aos olhos ocupados de quem o ocupava, mas isso não o chateava sempre, mas quando isso acontecia, o deixando cabisbaixo, Raul, desistia de girar e assim as pessoas que outrora não o deram atenção, davam algo a ele que o deixava viciado, com uma vontade louca de girar e girar ver o por do sol e pessoas e crianças e velhos e casais e... E... Mais.

Com o tempo, Raul foi envelhecendo e viciou-se naquele treco de consistência estranha e melada cor feia e cheiro pior ainda.
Não girava sem aquele treco. Queria atenção e queria o treco, por que diabos ele mesmo não podia pegar?
Raul tentava, e não saia do lugar, saia apenas da paisagem, e com muito esforço, pois precisava do treco, precisava mais do que tudo, mais do que de atenção.
Girava então com dificuldade e necessidade, girava triste e desinteressado.
Raul parou de girar, Raul morreu, Raul foi substituído.
Sim, Raul foi substituído, sua presença ali era apenas simbólica e comemorativa, não tinha valor se não proporcionava mais o riso e o vento novo, não era novo.
Porque tudo que é novo é melhor, tem mais valor e não precisa de nada, de ninguém.
Raul precisava do treco.